MALES DE AMOR

Já havia virado caso de polícia, mas Ana e Jonas ainda viviam discutindo. Ela queria que ele parasse mais em casa, reparasse nela, brincasse com os filhos, mas Jonas sequer a ouvia. Era Ana começar a se queixar, ele logo explodia, e era a deixa para sair de casa e espairecer, ficando Ana só com as paredes – quando não saía atrás dele e continuava a briga na rua.

Era a final da Libertadores, e o time de Jonas apanhara feio. Arrasado, Jonas chega em casa e se depara com a casa arrumada, filhos na vizinha, esposa cheirosa e gentil. À mesa, uma fartura de delícias, seus pratos prediletos. Jonas bendisse a Deus a mulher que tinha. Comeu de se esbaldar, lambendo os dedos de contentamento, enquanto Ana o servia pacientemente.

Após a sobremesa, satisfeito e ainda bobo, Jonas sente certo incômodo, um mal estar. Suando em bicas, ao olhar para o sereno e impassível rosto de Ana, percebeu que fora vítima de uma engenhosa armadilha. Tenta fingir que nada acontecia, enquanto Ana lhe trazia o café. Não queria ceder, entregar os pontos, enquanto Ana só o observa. Em pânico, já se contorcendo de dor, a única solução que resta a Jonas é se entregar ao inimigo. Perdera a batalha. Corre para o banheiro, onde chora, aliviado.

Ana, do lado de fora, calmamente pega uma cadeira, e senta. Pode ter estragado a flora intestinal do marido, mas não iria estragar seu casamento. Assim, impossibilitado de deixar o posto por um bom tempo, Jonas teve que, pacientemente e sem outra opção, ouvir todas as queixas acumuladas da esposa, enquanto maldizia os efeitos quase instantâneos do potente laxante que habilmente fora induzido a tomar.

Obs.: é fato que, os amigos do casal que freqüentam a casa, ao saberem que eles estão no meio de uma crise, nada comem ou bebem quando os visitam. Vai saber...