CIRANDA DE SÃO JOÃO

A cidade inteira era uma euforia só. Cidadinha pequena, daquelas que cresceram em torno da Praça da Igreja, todo dia o sinal da cruz ao passar pelo cemitério, ao meio-dia, em testa de criança prá passar soluço longo.

O casamento da filha de Nhô João era o assunto à boca pequena ou de qualquer tamanho e saúde. Margarida, um doce de moça e, do jardim do pai, sua flor favorita.

Antônio, o pretendente adequado: melhor nascido, educado na capital, doutor dos bois e cavalos da região, até parto de criança de emergência já teve que fazer. Verdade. Taí a filha de Dona Zenóbia que não me deixa mentir.

Nunca fora moço de tomar liberdades, sempre respeitador. Pedia para pegar na mão, namorava na sala, ia embora cedo. Fazia planos para a nova casa, os quatro filhos, a ampliação do consultório.

Margarida cuidava dos detalhes para o casamento: enxoval, vestido, Igreja. Pagara com fervor sua promessa para seu santinho, o Antônio, que finalmente lhe atendera e lhe mostrava o amor.

Mas o Santo, ocupado que só ele, errara o alvo, coitado. Margarida bem que se esforçou em se apaixonar pelo correto Antônio, mas quando seus olhos encontraram os de Pedro, estava já desarmada de seus lógicos argumentos e princípios, era toda coração. Faltaria com o pai, com o noivo, com toda a pequena cidade que a vira crescer.

Tomou a jovem o rumo da estrada com a roupa do corpo e um sorriso nos olhos, amparada por seu ladrão.

Nhô João organiza grupos de conhecidos, desbandeirados à procura da doidivanas que de desculpa deixou sobre a cama o vestido, branco como seu silêncio.

Antônio caído à porta, inconsolável. Poderia ter desposado Francisca, a outra irmã e ainda bonita, sem graça mas sempre presente. Sentia falta da mão macia e quente de Margarida.

As pessoas aos poucos retornam às suas casas. O que teria feito Margarida abandonar o noivo sozinho no altar, ninguém soube, assim como também ninguém entendeu a súbita chegada de Padre Valdir, substituindo o jovem pároco Pedro.