O MEU DESTINO É SER STAR

Altair era ladrão. Não dos largamente reconhecidos em noticiários de plantão, nem desses que volta e meia estampam as colunas policiais – era sempre o que ficava para trás nas fugas, o mais devagar, o das costas mais frias.

Ele bem que tentava levar uma vida digna, mas sua preguiça em levantar cedo o fazia inventar as mais variadas desculpas aos empregadores, que as aceitavam até o limite aceitável. Sonhava em ficar rico e famoso, mas a única pessoa que assumidamente o conhecia era dona Idalina, sua mãe - e mãe a gente não conta.

Mas Altair precisava de dinheiro para montar o barraco dos sonhos de sua mulher, Sandra Rosa Madalena, que ganhara esse nome em homenagem ao homem que crescera acreditando ser seu pai; a mãe não confirma ou nega, mas não abandona o retrato autografado já roto, escondido sob o colchão.

Sem nada para fazer nem dinheiro para gastar, passeando com a esposa, Altair um dia notara o brilho de satisfação nos olhos de Sandra Rosa ao admirar um sofá exposto numa vitrine. Seu olhos brilhavam mais do que fogos pipocando na noite do Morro do Chacrinha. Sabia que sua nega já se via sentada naquele sofá, na sala de casa, recebendo as vizinhas roxas de inveja, enquanto a mãe punha na vitrola um disco do Magal.

A saideira. Altair promete ser esta a última vez em que se meteria em roubada, delirando ao pensar na felicidade de sua mulherzinha.

Sandra Rosa Madalena está em casa, cansada após lavar tantos cabelos em seu pequeno e alugado salão. Liga a diminuta TV, comprada em prestações – “Mas é minha” – e se acomoda no velho sofá ao lado da mãe e da sogra, que cochila. Mas num pulo, aos gritos, Sandra Rosa e as duas mulheres vêem no noticiário local um sonolento e assustado Altair, escoltado por dois policiais:

“A polícia respondeu a um chamado de arrombamento nesta loja de móveis aqui do centro, e encontraram o provável criminoso, Altair José dos Santos, 27 anos, dormindo em cima de um tapete. Dormia tão tranqüilamente que o barulho dos roncos guiou os policiais até os fundos da loja”.

- Seu Altair, por que o senhor invadiu a loja de móveis?, perguntou uma sardenta repórter.
- SANDRA ROSA, MINHA NEGA, EU FIZ BESTEIRA, MAS FOI PRA TU PAIXÃO, EU JURO!, - apelou Altair.
- O senhor agia sozinho?
- Por que foi pego dormindo?
- Como levaria o sofá para casa?
- O senhor se arrependeu?

Altair não responde. Flashes explodem enquanto repórteres aguardam ansiosos, o aviso de “AO VIVO” piscando na lateral da tela, Sandra Rosa sem saber se socorre a sogra ou enfarta.

- Seu Altair, não tem mais nada a dizer?, - aguardavam câmeras, gravadores e microfones.

Altair, pingando suor, ensaia um sorriso amarelo.

- Tenho sim senhora. (...) MÃE, EU TÔ NA GLOBO!!!!